Sim, afirmo e reafirmo:
as pessoas são más e vivem fazendo nojeira o tempo todo. Pode à primeira vista
parecer que estou sendo cruel demais no meu julgamento das pessoas, e você pode
me dizer que conhece muitas pessoas no mundo que são boas e que não vivem
fazendo nojeiras o tempo todo, e eu acredito em você porque também conheço
muitas pessoas maravilhosas. Mas você não lê jornais? Será que precisa mesmo
conhecer alguém assim? Você tem certeza de que não conhece mesmo pessoas
terrivelmente más? Nem pelos noticiários e pela história?
Minha visão do ser
humano não é limitada, pelo contrário, minha visão do ser humano é muito
abrangente, porque quando falo em ser humano estou falando no todo e não apenas
do meu círculo de amigos, conhecidos e família. Se fosse me limitar a esses
diria, como você, que o ser humano é maravilhoso. Mas, como eu disse antes,
tenho o hábito de olhar mais fundo para as coisas.
Sei que muitas e muitas
pessoas que são boas para a gente podem em determinadas circunstâncias ser
muito más; sei que pessoas muito boas dormiram sem remorso em travesseiros
recheados com cabelos de judeus exterminados nos campos de concentração e que
pessoas boníssimas tinham como passatempo ir às execuções em praça pública e se
deliciar com as torturas que presenciavam; sei que pessoas boas se divertem
vendo um homem socar a cara de outro homem; sei que pessoas extremamente boas
criam passarinhos em gaiolas; sei que pessoas extremamente boas têm como hobby
e chamam de esporte dois atos que me parecem extremamente abomináveis se
encarados de outra forma que não seja a necessidade de sobrevivência: a caça e
a pesca.
Eu ouço muita gente boa
dizer coisas como “Não gosto de judeus” (ou de chineses, ou de cariocas, ou de
gordos...), “Gays são aberrações”, “Por que os nordestinos não voltam para o
lugar de onde vieram?”, “A coisa que mais me relaxa e me faz bem é uma pescaria
em alto mar”, “Mas os negros também escravizavam”, “Odeio feministas!”... e
outras muitas e muitas frases que a pessoa boa que as pronuncia nem para pra
pensar tempo suficiente pra ter consciência da carga de maldade que elas
contêm.
Em contrapartida, você
poderia argumentar, criminosos se recuperam e até pessoas más podem ter, e
costumam ter, aspectos de bondade; até o sanguinário ditador Adolf Hitler pode
ser que tinha virtudes e pode ser que tenha feito coisas boas também. Concordo
com você, mas isso não é suficiente para que eu deixe de pensar o homem como um
ser de maldade, um oposto do que para mim, poderia ser chamado de ápice da
criação, um oposto do que para mim poderia ser chamado de um ser criado “à
imagem e semelhança” de um deus todo bondade.
Hitler pode ter tido
bons sentimentos e praticado atos de bondade, não sei, mas isso não me impede
de sentir que ele é apenas um dos muitos e muitos exemplos, do passado e do
presente, que me fazem sentir vergonha de pertencer à raça humana; e eu sinto
essa vergonha diante de todos os criminosos que vejo pela televisão, pelos
jornais, pelos livros de história. E nenhum exemplo de bondade humana – e
existem muitos – é suficiente para tirar de mim essa vergonha e para me tirar a
certeza de que o ser humano não pode ser criação de um deus todo poder e todo
bondade.
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