É tudo que eu
aconselharia a alguém... Não estou me referindo só ao papa, papa mesmo, aquele
velhinho que se acha representante de deus na terra, se não o próprio deus...
Estou me referindo ao Vaticano, o menor país do mundo e, seguramente um dos
mais chatos!
Fui a Roma esse fim de
semana, que foi prolongado na França, na Itália e talvez na Europa, porque é
uma data religiosa qualquer que eu não entendi bem qual seja. Pois bem, saímos
de Paris à tardinha e pegamos um trem-dormitório, que eu pensei que fosse algo
bonito e romântico mas que não é nada disso... é um trem velho, com cabines
onde cabem seis pessoas, três a três, um trio de frente para o outro, em bancos
razoavelmente confortáveis; em cima vê-se logo duas camas, uma de cada lado,
quando anoitece a gente puxa o encosto e ele se torna uma cama, enquanto que o
assento é outra cama e, Zalum! Temos seis camas para seis pessoas...
Na ida fomos com uma
família italiana composta de mãe, pai e filho adolescente, apesar de não
falarmos italiano e de eles não falarem português nem francês, nós até que
conversamos bastante, principalmente os dois homens porque o Nêgo queria
aprender italiano em uma noite e o cara era simpático e agradável o suficiente
para tentar ajudar. Além de nós e dessa família havia um africano muito calado
que quase não falou com a gente, nem em inglês que ele parecia saber já que foi
como falou com o fiscal que veio buscar os passaportes e que tanto o Nêgo
quanto o outro homem sabiam. Parecia que ele não estava mesmo a fim de
conversar...... Eu só soube que era africano porque numa certa altura ele falou
com alguém no celular e era a mesma língua (ou muito parecida) que eu ouvia
muito quando estava na Espanha.
A viagem durou bem mais
do que o esperado porque o trem ficou, a altas horas da noite, parado por muito
tempo duas vezes. De manhã o Nêgo ouviu conversas de que teria sido uma vez por
causa de uma tempestade e a segunda vez por causa de um “pente-fino” na
fronteira, o fato é que era para a gente chegar a Roma às 10 da manhã e
acabamos chegando ao meio dia... mas como a companhia estava bastante agradável
nem foi assim tão aborrecido. Na volta viemos com quatro mulheres, duas jovens
e duas mais velhas, eram orientais, de Cingapura, e falavam inglês, o Nêgo
conversou bastante com elas, eu bem pouco porque meu inglês é um desastre! Não
teve atraso.
No primeiro dia entramos
no Coliseu e no espaço onde está o Fórum e o Palatino romano, esse espaço é
imenso e quando deu a hora de fechar a gente ainda não tinha andado nem metade,
mas o ingresso valia por dois dias e poderíamos ter voltado no dia seguinte...
poderíamos!
O problema foi que
resolvemos, apesar do nosso espírito não religioso, ir ao Vaticano, afinal, é
voz corrente que não se pode ir a Roma sem ver a Capela Sistina e o museu do
Vaticano, além da imensidão impressionante da praça e da catedral de São Pedro;
inclusive, a mulher que viajou conosco disse que ver a Capela Sistina causava
uma emoção que ela definia com uma palavra que significa algo que supera o
deslumbramento, nós quisemos saber que emoção era essa: Foi uma das piores
besteiras que já fizemos na vida!
Chegamos e vimos uma
fila imensa, mas somos otimistas e achamos que ela estava rápida e que a
entrada era logo à frente onde dobrava a muralha, então ficamos na fila... sol
quente, calor, e cerveja a quatro euros o copo (copo, não latinha!). Três horas
depois entramos, três horas porque a entrada era bem mais à frente do que a
gente tinha pensado; vimos que tudo era grande, inclusive o caminho até a
Capela Sistina... A gente seguia as indicações nas placas e as pessoas, que
eram muitas e iam na mesma direção que a gente... Pensávamos que a capela
estava logo ali e ela simplesmente nunca chegava... Eu estava com dor, minha
fibromialgia se manifestou com tudo e não quis tomar o último comprimido para
dor que era do Nêgo... Nunca vi e duvido que vá ver alguma vez na vida uma
capela mais difícil de se chegar do que essa!
Eu já estava querendo
dar meia volta e sair de lá, desistindo sem remorso de qualquer emoção acima do
deslumbramento em nome da minha sanidade mental que já começava a ser afetada
pela dor e pela raiva, mas não o fiz porque nunca daria para saber se de
repente para voltar não teria que andar mais ainda do que pra chegar na maldita
capela!
A cada trecho que se
andava tinha um balcão vendendo bugigangas; eram rosários e medalhinhas,
estatuetas e livrinhos, reproduções e postais... As obras expostas nos salões
não tinham nenhum cartão com referência, nenhum nome, nenhuma explicação,
tinham apenas um número e se você quisesse saber do que se tratava tinha que
comprar os livros que falam tudo sobre o Vaticano ou então pagar pelo tal
aparelho no qual você aperta a tecla indicada e ouve, na língua que escolheu, a
explicação que qualquer museu que se dê esse nome tem ali, ao lado da obra.
Finalmente, depois de
muitos quilômetros de caminhada e de passar por muitas lojinhas, chegamos à tão
famosa Capela Sistina e... Surpresa! Lá não pode tirar fotografia, mesmo sem
flash... Deve ser pra obrigar quem ainda não o fez a comprar uma reprodução
colorida ou um livro com cada parte detalhadamente explicada como se fosse pelo
próprio Miguelangelo... Eu já estava cantando a musiquinha em ritmo do parabéns
a você em inglês:
O Papa é um filho da puta
O Papa é um filho da putaO Papa é um filho da putaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!
Ninguém pode negar!
Ninguém pode negar!
Saí de lá furiosa, não
senti emoção-mais-que-deslumbramento nenhuma e acho que o próprio Miguel
ficaria muito puto se soubesse a sacanagem que estão fazendo com ele. Claro que
a pintura da Capela é linda, claro que tem muita coisa bonita naqueles
corredores todos que a gente é obrigado a seguir para chegar até ela, mas toda
a beleza fica perdida no meio da raiva, do desconforto e da exploração.
E eu achei que já tinha
esgotado toda a possibilidade de sentir raiva do papa quando finalmente
consegui sair daquele lugar, encontrar um restaurante simpático e comer uma
gostosa refeição fechada por um limoncello maravilhoso quando, voltando pelo
lugar de onde viemos, vimos que da fila de três horas que enfrentamos não
restava nem vestígio! As pessoas que passavam estavam saindo de lá, pouquíssima
gente estava entrando, não havia mais fila nenhuma e era pouco mais do que três
horas da tarde! Nós nos sentimos dois perfeitos imbecis, perdemos o ingresso
que já estava pago para o Fórum e o Palatino e perdemos praticamente um dia todo
de uma viagem de apenas três dias em uma cidade que tem milhões de coisas mais
interessantes para ver do que o antro do filho da puta do papa!
O dia seguinte passamos
andando pela área do Palatino, fomos ao Circo Máximo e ao Panteão e, nesse
caminho que fizemos, desviamos de tudo que tivesse relação com papa ou igreja
católica!
Foi um dia perfeito!
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