Depois de muito pensar nas coisas
(tantas tantas!) que eu não sei, assumi meu ateísmo concluindo que não há a
mínima possibilidade de existir deus.
Deus, por definição, é um criador
todo poderoso e todo bom. Nunca vi ou ouvi alguém que acredita nele defini-lo
de outra forma que não seja essa, basicamente, embora às vezes com outras
palavras. Nunca um crente negaria, na definição do que seja deus essas duas características:
ele é, tem que ser, poderoso e bom. Se você perguntar quão poderoso a resposta
será “infinitamente”. Se perguntar o quanto ele é bom, a resposta será “infinitamente”.
Deus é, portanto, por definição,
infinitamente poderoso e infinitamente bom. Daí se conclui que qualquer coisa,
ser ou entidade que não seja infinitamente poderoso e infinitamente bom não
será deus.
Deus é também o criador, tanto é
que muitos usam a palavra “criador” no lugar da palavra “deus”
para se referir a ele. Esse criador, que é deus, criou o universo, criou o
mundo, criou tudo que vemos e tocamos, criou a nós mesmos. Não há crente que
não afirme com toda a convicção que deus é o criador e que deus criou tudo que
há. Costumam apresentar, como prova palpável da existência desse deus criador,
as coisas da natureza que invariavelmente encantam a percepção humana. As
flores e seus perfumes, as aves e suas cores, as frutas e seus sabores seriam
provas concretas da existência desse deus e até mesmo, querem alguns, da
bondade infinita desse deus que criou tudo.
Pois bem, se esse deus que é por
definição infinitamente poderoso e infinitamente bom criou tudo o que existe,
então ele teria fatalmente que ter criado também o mal e o tal capeta, diabo,
canhoto ou do que mais o chamem, afinal, se criou tudo não há como se furtar de
ser criador também do que há de ruim, feio, defeituoso. Venhamos e convenhamos,
de acordo com os crentes, ele criou o homem e o homem, como espécie, é um digno
representante do que se pode definir como ruim, feio, defeituoso.
Acontece que todos os que
acreditam em deus afirmam que quem criou o mal fomos nós, os seres humanos.
Sempre que algum atrevido feito eu tem a audácia de colocar um crente diante da
questão do mal e do fato duvidoso de o deus que ele afirma ser bom permitir a
existência do mal, a resposta é que o mal não é culpa de deus e sim do homem.
Já ouvi isso centenas de vezes, não existe outro argumento porque, mesmo quando
falam nos males praticados pelo Diabo, Capeta, Demônio, “Canhoto”, são males que
esse “inimigo” só consegue praticar porque nós permitimos nos aliando a ele ou
nos deixando convencer por ele. Nós somos responsáveis por todos os males do
mundo, inclusive, ironicamente, se a gente for acreditar no que os defensores
de deus dizem, pelos males que existiam antes da própria criação da raça
humana.
É engraçado que eles não se dão
conta de que quando colocam a invenção do mal sobre as costas da raça humana,
nos acusam de termos inventado todas as doenças, e não percebem que, consequentemente,
teríamos inventado os vírus, as bactérias, os parasitas, as falhas
hereditárias. Teríamos inventado também todas as catástrofes naturais, fomos os
criadores dos vulcões, dos terremotos e maremotos, dos relâmpagos, das secas e
das enchentes. Fica engraçado dito assim, mas não é isso que os crentes estão
dizendo quando culpam o ser humano pela existência do mal?
Somos os responsáveis pela
existência do mal, portanto, seguindo esse raciocínio, deus não seria, na
verdade, o criador de tudo. Tá, tudo bem, ele teria criado o ser humano que
criou o mal, mas, ainda de acordo com o que dizem os crentes, ele, deus, não é
culpado pela existência do mal, então, seguindo a orientação dos crentes e
tirando essa responsabilidade das costas dele, deus deixa de ser o criador de
tudo o que existe, ou seja, dessa forma, tira-se dele a responsabilidade pela
criação do mal, que é parte do todo, e deus deixa de ser o criador de tudo. Ele
perde assim uma das características que o definem. Sem essa qualidade de criador,
que é parte constituinte dele, deus estaria incompleto, e consequentemente não
existiria como tal.
Mas não para por aí. Esse criador
seria todo poderoso, ou seja, não há nada, NADA MESMO, que o tal não possa,
cansam de dizer que ele é “O deus do impossível”. Mas afirmam, todos os
crentes, que ele só permite que crianças sejam estupradas nos bancos das
igrejas, que bebês sejam assassinados, que filhas sejam trancafiadas e abusadas
pelo próprio pai por anos seguidos, que pessoas morram de fome, tudo isso e
muito mais porque ele não pode interferir na vida da gente já que nos deu o tal
do livre arbítrio (que de livre não tem nada). Então lá se vai a segunda
característica. Ele não pode interferir, portanto, não pode tudo. Não pode,
então, existir.
Agora a pior de todas: Afirmam
que deus é mais do que bom, é todo bondade, não há nem sombra, nem vestígio,
nem migalha menor do que microscópica de maldade nele. Aí desmoronam-se duas
características de uma vez só. Primeiro, sem nadica de maldade, ele provavelmente
não saberia o que é maldade; sendo tão pura, simples e totalmente bom, o
próprio entendimento do que seja o mal, estaria obrigatoriamente fora do
alcance de sua suprema bondade, daí a onisciência dele, que é outra qualidade
que o define, de acordo com os que nele acreditam, já foi pras picas.
Segundo que se ele fosse esse
poder todo, poderia ter usado essa bondade toda para criar um mundo um pouco
melhor do que esse mundo louco onde existem homens que estupram crianças e
padrecos que excomungam os homens que ajudam uma dessas crianças e não o FDP
que a estuprou. Mas, argumentam os crentes, esses males são nossos. Deus criou
a natureza e a natureza é linda, é perfeita, é prova concreta da existência, da
grandeza e da bondade de deus.
Acontece que sempre me coloco do
outro lado. Não consigo achar lindo um passarinho comendo um inseto, penso no
ponto de vista do inseto. Não sei ver um golfinho com uma sardinha na boca sem
me arrepiar quase sentindo em mim o horror da sardinha. E vai por aí, não
consigo ver beleza em um ser vivo matar outro ser vivo; simplesmente não
consigo achar isso bonito, e muito menos perfeito. E isso, ter criado esse
circo de horrores, mata a definição de deus como um ser todo bondade. E esse
deus simplesmente não pode, não tem como existir.
Para criar do nada absoluto tanta
maldade como a que existe, um ser criador qualquer só poderia ser mau ou
indiferente. Sendo o criador do mal, esse ser não pode ser todo bondade. Se
existe mesmo um tal ser onipotente que criou tudo isso, ele tem que ser
obrigatoriamente, pelo ponto de vista humano, muito mau e muito sádico. Só
assim para criar a cadeia alimentar, essa coisa sanguinária que me causa tanto
asco.
Dizem ainda os crentes que não
existia NADA, e ele, o deus definido como todo poder e todo bondade, chegou e
fez tudo. Repetindo: dizem que ele tem poder ilimitado, ou seja, poderia ter
feito QUALQUER outra coisa, não tinha nenhum limite, não tinha sequer os
limites impostos pelas leis da física, pelas leis da natureza; afinal, se fez
tudo a partir de nada, logicamente fez também as leis da física, as leis da
natureza.
Para fazer tudo que dizem que
fez, ele teria que imaginar primeiro, pensar, planejar primeiro: o que seria
feito, quanto teria de variedade, como suas criações interagiriam. E mais,
sendo onisciente, ele teria que saber, antes mesmo de criar a primeira de todas
as coisas que tenha criado, quais seriam as consequências dessa criação; ele
obrigatoriamente saberia, antes de criar o primeiro homem, quantos homens os
homens matariam, torturariam, subjugariam, escravizariam; ele,
obrigatoriamente, saberia antes de separar o mar da terra quantos vulcões
arrasariam quantas cidades, aldeias, vilas, famílias e habitats de animais
inocentes; teria que saber, antes de criar o primeiro cervo e o primeiro leão,
quantos cervos teriam que passar pelo horror de terem suas entranhas devoradas
ainda com seus corações batendo.
Um criador onipotente e
onisciente, qualquer que fosse, para criar do nada esse mundo que somos e em
que vivemos teria antes que imaginar, planejar, saber tudo sobre tudo aquilo
que estaria criando. E, decididamente, para imaginar tanto horror a partir de
nada, só não sendo deus, por ser alguém totalmente indiferente ou não sendo
deus por ser alguém doentiamente sádico.
Foi-se, então, a possibilidade da
existência de deus pela impossibilidade de casar a sua definição com a sua
pseudo criação. Então, mesmo que haja um criador do universo, esse criador do
universo não poderá ser o deus, a própria definição de deus impede que qualquer
possibilidade de criador seja chamado pelo nome deus. Daí eu só tenho essa
opção: Saber com mais do que certeza, que deus não existe.
E acho que é muito melhor, para
nós e para deus, que ele não exista. Porque se existisse, ele teria que,
obrigatoriamente, ser muito, muito pior mesmo, do que qualquer descrição ou
definição de diabo, capeta, satã ou coisa que o valha, que eu já tenha visto.
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