Não entendo de economia, não
consigo me concentrar nesse assunto, tenho dificuldade com números. Mas, pelo
que li dos comentários de algumas pessoas que falam sobre economia, o que penso
é que os dois lados aparentemente opostos muitas vezes estão certos; e, ao
mesmo tempo, os dois estão errados.
Deixa ver se consigo me explicar:
Basicamente concordo com Pierre-Joseph Proudhon, o cara que disse "Toda
propriedade é um roubo", e, por conta disso, concordo com os que
criticam os empresários e defendem o trabalhador à maneira do poema Operário em
Construção, do Vinícius de Moraes.
E concordo mais ainda quando
percebo que no momento em que alguém usa discurso “anticapitalista”, o
operário que está defendendo não é o João ou o Mário. A pessoa está falando do
operário como classe, daquele que foi explorado trabalhando 12, 14 e até mais
horas por dia, sem direito a fim de semana ou férias, no começo da revolução
industrial que enriqueceu muita gente em um sistema que matou muitas mais; a
pessoa está falando do operário de hoje, que trabalha a semana inteira e que, quando
sai a passeio com a família, nas férias ou no domingo, é olhado com nojo pelos
representantes da elite, ou dos que se acham elite. Esses “cidadãos sem
preconceito” que dizem sobre a presença desse operário nos lugares que só “merecem”
ser frequentados por seus narizes empinados o que uma “bonitinha” que
trabalha com meu marido disse sobre a praia do Flamengo, explicando por que não
gosta de lá: "É bonita, mas muito mal frequentada".
Então, pensando nessas e outras
coisas do tipo, concordo com quem coloca o empresário como o explorador
insaciável, ganancioso e imoral.
Agora, se tento seguir meu
próprio conselho e “Nunca generalizar!”, ou se tento encontrar uma
solução do tipo eliminar a propriedade, ou dar a todos os operários uma empresa
para administrar, ou... Enfim, toda solução em que penso acaba por não satisfazer
porque, se toda propriedade é um roubo, na maioria dos casos, nem os ladrões
nem as vítimas estão por aqui para que possamos devolver o produto do roubo a
seus legítimos donos. E quem devolveria? Conhecendo o bicho que o animal humano
é e olhando para os acontecimentos da história, me parece muito mais provável
que os que tomam a propriedade para “devolvê-la a seus donos” acabam na
verdade tomando-a para si e, no processo, tomando também, como propriedade, os “seus
donos” a quem deveriam devolver a propriedade em questão.
Fica difícil, e não consigo
pensar em solução também porque, para o bem e para o mal, nossa sociedade está
estruturada de tal forma que, para sobreviver, a maioria das pessoas precisa
vender sua força de trabalho, física ou intelectual e, como dizem os que
defendem o capitalismo, e eu que na prática sou obrigada a fazer coro com eles:
“Se não tenho jeito para ser empresário é bom que alguém tenha para que eu
possa ter um emprego”.
O que falta, e que nunca teremos
sem luta, é justiça, é respeito pela pessoa, é diminuir o preconceito que
marginaliza o operário. O que falta é acabar com a ganância que faz com que
esse operário não receba um pagamento justo pelo seu trabalho, é acabar com
essa cultura elitista e irracional que impede que o operário receba sequer o
direito de ser visto e tratado como ser humano. Mas às vezes penso que, para
que isso aconteça, teríamos que mudar a essência do ser humano, o que não me
parece possível, infelizmente.
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