Embora
possamos ser acusados, até com muita justiça, de sermos responsáveis pela maior
gravidade e maior frequência de algumas catástrofes naturais, não há como
afirmar que os homens são responsáveis pela existência dos fenômenos da
natureza.
Somos
culpados por explorar indiscriminadamente os recursos naturais, mas não criamos
a natureza; somos culpados por habitar as encostas dos morros e as margens dos
rios, mas não somos responsáveis pela existência das enchentes e dos deslizamentos;
somos culpados por construir cidades sobre as fendas nos limites das placas
tectônicas, lugares sabidamente propensos a terremotos, mas não criamos as
placas tectônicas nem os terremotos; e ainda podemos pensar que muitas dessas
cidades foram construídas muito antes de que tivéssemos condições de sequer
saber algo sobre a existência das tais placas tectônicas.
E
se somos culpados, pelo menos em parte, não somos as únicas vítimas; animais
também são mortos, feridos e desabrigados pelas catástrofes naturais, isso
desde muito antes de nós, seres humanos, habitarmos a terra, e a eles não pode
ser atribuída nenhuma culpa quanto à destruição ou à poluição da natureza.
Por
mais que as explicações sobre as placas tectônicas, as formações das nuvens, as
diferenças de temperatura, as correntes marinhas ou a pressão interna da Terra
estejam corretas e mostrem que os fenômenos naturais são necessários e até
vitais para o planeta que habitamos, não há como deixar de julgar o terremoto,
a enchente, a seca, a erupção vulcânica ou mesmo os raios como um mal quando
eles ferem, desabrigam e matam pessoas e animais.
Mesmo
nossa cumplicidade, se existe, é bem recente, afinal, passamos muitos séculos
sem ter tecnologia suficiente para atacar a natureza de forma efetiva;
catástrofes naturais mataram muita gente que o máximo que fazia em termos de
ataque à natureza era caçar animais para comer e derrubar uma ou outra árvore
com machados feitos de pedra.
Até
mesmo para acusar o diabo os teístas teriam dificuldades uma vez que
catástrofes naturais são causadas pela natureza, são parte da natureza que, de
acordo com esses mesmos teístas, é a perfeita criação incontestável de deus. Se
existe esse deus e se ele é o criador todo poderoso, então o lógico é que ele
tenha criado a Terra e dado a ela essa condição geológica que a faria ser – ao
mesmo tempo que uma mantenedora – uma destruidora de vidas, uma causadora de
sofrimentos; uma agente do mal.
Não
há como inocentar deus. Nós podemos ser, no máximo, cúmplices recentes desse
crime, mas também somos vítimas, enquanto que deus - se existir - é o autor.
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