Em outras ocasiões eu já disse
que o cristão acredita que deus criou o paraíso só pra ele. Alguns disseram que
não é verdade, que até eu posso ter esse privilégio, se “aceitar Jesus”,
se me deixar batizar ou simplesmente se acreditar em deus, e com deus eles
querem dizer, é claro, o deus cristão; Alá, Ogum ou Shiva não servem de jeito
nenhum. Parece que o cristão não percebe que com esse comentário está
confirmando o que eu tinha afirmado: O cristão acredita que deus criou o
paraíso só para ele; qualquer um pode ir para lá, desde que seja um deles.
Agora, quanto a deus ter criado
esses dois mundos o que ninguém explica é por que cargas d’água um ser tão
poderoso se daria a esse trabalhão todo. O cristão diz que “Deus nos amou
tanto que enviou seu filho para nos salvar”, e por que é mesmo que um deus
tão poderoso amaria os homens dessa forma tão absoluta? Por que será mesmo que
um ser tão poderoso, sobre o qual - de acordo com o próprio cristão - a gente
não pode nem aventar hipóteses mais ousadas porque nosso parco conhecimento não
seria jamais capaz de alcançar tal magnitude, dedicaria séculos e mais séculos
de sua vida imortal a provar seu amor pelos homens, inclusive tornando-se homem
e sofrendo entre os homens? Por que é mesmo que um ser capaz de criar o
universo daria tanta importância ao que sente, ao que pensa, ao que faz e à
maneira como vive o ser humano? Por que um ser infinitamente poderoso estaria
preocupado em “forçar a barra” para que pessoas se reúnam para lhe gritar
louvores? Por que insondáveis mistérios um deus capaz de criar o universo se
preocuparia em saber quem acredita nele e quem não?
Vejamos, só de brincadeira, o
tamanho do universo. De acordo com o Jornal da Ciência, órgão da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência, o Universo tem pelo menos 156 bilhões
de anos-luz; alguém faz ideia do que seja isso? Basicamente significa que se
alguém pudesse viajar a uma velocidade de 299.792,458 quilômetros (duzentos e
noventa e nove mil e setecentos e noventa e dois quilômetros, e mais
quatrocentos e cinquenta e oito metros) por segundo (atenção, é por segundo,
não por hora!), nessa velocidade tão absurda que Einstein já comprovou que a
matéria não pode alcançar e deixaria de ser matéria se alcançasse, essa pessoa
demoraria 156 bilhões (Bilhões, com B) de anos para ir de um extremo a outro do
universo. Volto a perguntar: Alguém faz ideia do que seja isso?
Continuando: nesse universo de
156 bilhões de anos-luz existem pelo menos 110 bilhões de galáxias, e a nossa,
a Via Láctea, está muito longe de ser a maior delas; nessas galáxias todas
existem pelo menos 2.000 bilhões de bilhões de estrelas e nosso sol é uma
delas, uma inclusive cujo tamanho não impressiona ninguém. Quantos planetas
existem não dá pra saber porque os planetas são matéria escura, ou seja, não
emitem luz, e por isso são muito difíceis de serem detectados, mesmo assim,
centenas deles já o foram. Agora pensemos: No meio de todos esses números
imensamente gigantescos e assustadoramente impressionantes fica o planeta
terra, que é um planetinha ridiculamente pequeno se comparado até mesmo aos
maiores que estão orbitando nosso próprio sol - o que é uma comparação bem humilde
levando em conta a limitação que se fez dos termos. É nesse planetinha pequeno
e insignificante se comparado com a imensidão dos tamanhos e distâncias
existentes no universo, é na terra que estão os seres vivos; nós, todos os
seres vivos que conhecemos até onde sabemos e até onde nosso conhecimento
chega; na minúscula terra estamos os animais, estão as plantas, estão os
fungos, estão os vírus; e dentre essa massa de seres vivos - só de insetos
estima-se que são mais de 800 mil espécies - estamos nós, os humanos; e dentre
nós, humanos, encontra-se essa espécie única e privilegiada; o cristão para
quem e por amor de quem deus criou todo esse universo. Faz algum sentido pra
você?
Mas o incrível é que não parou
aí, tem mais! Não contente de ter criado o universo e coroado toda essa criação
absurdamente gigantesca com a absurdamente intrigante criação do homem, deus
ainda se deu ao trabalho de criar um outro mundo, um mundo fantasticamente
maravilhoso, um mundo feito especialmente e especialmente adaptado para o cristão,
um mundo tão perfeito que provavelmente faz todo o universo parecer nada; esse
mundo é o Paraíso para onde irá o cristão depois da morte e onde esse ser
incrivelmente especial, amado e honrado que é o cristão viverá por toda a
eternidade.
Vão me acusar de estar com
inveja, e estou mesmo, ou estaria se acreditasse nisso. Caracas! Quem é que não
gostaria de ser assim tão privilegiado e distinguido? Quem é que não gostaria
de receber essas honras todas? Sou humana, gente, adoro elogios como todo mundo.
Só que tem alguma coisa em mim que “buzina” que elogios têm limites. Da mesma
forma como elogio demais denuncia a mentira da pura bajulação e me causa
desconforto, essa distinção toda, se fosse dirigida a mim, certamente me
causaria muito desconforto. O problema é que, como não há nenhuma comprovação
minimamente plausível de que seja verdade tanto a existência quanto a dedicação
e o amor do deus cristão, isso tudo tem um cheiro muitíssimo forte de mentira,
de pura megalomania mal disfarçada. Juro que eu teria vergonha de me sentir tão
importante assim.
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