Toda vez que aceito
conversar sobre deus com alguém mais hora menos hora, se a pessoa não desiste
simplesmente, ela corta o assunto me acusando de infeliz. Sempre vem uma frase
mais ou menos assim: “Eu sou feliz e creio em deus, se você é infeliz e não
acredita o problema é seu”. E isso depois de eu ter afirmado que quando
falo sobre a vida e os horrores da vida estou falando no geral. Que parte de “no
geral” essas pessoas não entendem?
Acho que vou ter que
começar todos os meus textos com o seguinte aviso: “Sou ateia mas não sou
infeliz, acho a vida horrível mas a minha vida é ótima!” Será que assim vão
parar de me julgar uma velha infeliz e frustrada só porque não passo a vida
olhando pro meu próprio umbigo?
É revoltante ver que
as pessoas acreditam em deus porque são felizes e esquecem que milhões de
pessoas não são. Agradecem a deus porque têm bens materiais, saúde, família,
amor e esquecem que milhões de outras pessoas não têm nada disso. Por que será
que tantos tendem a tirar a conclusão de que tudo é maravilhoso só porque tem
coisas boas no seu pequeno mundinho? Será tão difícil assim olhar pra fora da
sua concha?
Tenho que afirmar
novamente: Atenção gente, atenção todo mundo, que fique bem claro e que todos
saibam. EU SOU FELIZ! Tenho onde morar, tenho amigos, tenho amor, tenho um
filho do qual me orgulho, tenho tudo que qualquer pessoa feliz pode ter e que
qualquer pessoa pode querer para ser feliz. Falando novamente: Eu sou muito
feliz! EU.
Mas acontece que
tenho senso de ética, tenho senso de moral, tenho senso de justiça. Não posso,
não sei e não consigo ficar feito babaca levantando louvores a deus se existir
um deus que me deu tudo que tenho sem ter dado a mesma coisa para o resto do
mundo. Não sou melhor do que o coitado que morre de câncer depois de muito
sofrer e muito rezar, por que mereço ter saúde e ele não? Por que tenho que
agradecer a deus se ele foi injusto? O fato de a injustiça desse deus ter me
favorecido, afinal não morri de câncer e o outro morreu, torna menos injusto o
que aconteceu?
Acho as pessoas que
usam o exemplo da cura das suas mazelas como prova da existência de deus muito
egoístas, egoístas e desonestas. Elas nem sequer se dão conta do quanto estão
sendo desonestas, mas estão! Elas nem percebem que estão o tempo todo apenas
olhando para o próprio umbigo, mas é o que estão fazendo. Tenho muita pena dessas
pessoas! Elas se acham tão boas que nem percebem o quanto são más!
Antes que me acusem
de mais essa, deixa eu esclarecer: Não, eu não sou boa, não me acho um poço de
bondade, não me acho acima de qualquer crítica. Sei que sou má, sei que muitas
vezes faço coisas erradas, piso na bola, faço julgamentos injustos, tomo
decisões precipitadas e até (isso eu juro que é sempre sem querer) ofendo ou
magoo as pessoas. Mas pelo menos eu sou má com conhecimento de causa. Sei que
sou má, por isso estou sempre tentando melhorar, as pessoas que são más e não
sabem disso não têm como tentar melhorar.
Quando afirmo que não
acredito no deus delas, muitas pessoas cortam relações comigo, me chamam de
infeliz e frustrada. Algumas ainda me ameaçam com o inferno eterno ou preveem
que um dia algo de bom acontecerá em minha vida e aí então eu vou creditar no
deus delas. Mas se algo bom acontece pra mim ao mesmo tempo que “algos ruins”
acontece para milhões de pessoas, não vou passar a acreditar em deus, pelo
contrário, aí é que duvido mais; e se acreditasse eu ficaria com raiva dele e
não agradecida. Por que eu e não todo mundo?
Mas, por mais que
afirme que o deus delas, se existisse, seria ruim e injusto demais para que eu
ao menos o respeitasse, não adianta, elas repetem o jargão da minha suposta
infelicidade e muitas vezes terminam com a afirmação oca e sem sentido de que
Jesus me ama. Chego a ter dúvidas sobre o nível de alfabetização de algumas
dessas pessoas.
Eu digo: Se deus me
deu, por exemplo, uma casa, mas tem milhões de pessoas sem casa, então não vou
agradecer a ele pela minha casa, na hipótese de que ele exista, vou chamá-lo de
injusto e cruel por ter dado uma casa a mim e não a outros milhões de pessoas
que precisavam mais do que eu e mereciam mais do que eu ter uma casa. Os
religiosos dizem: “Mas se tem tanta gente sem casa não é culpa de deus, é
culpa do homem e da ganância que não permite uma justa distribuição de renda”.
Aí eu respondo: Mas peraí! se eu tenho uma casa e isso é prova da bondade de
deus que deu essa casa pra mim, e se o fato de outro não ter uma casa é culpa da
ganância dos homens, tem alguma coisa errada nessa equação! Dois mais dois tá
dando cinco. Se deus pode dar uma casa pra minzinha, que não fiz nada por
merecer, por que não pode fazer a mesma coisa pra outras pessoas que até
fizeram por merecer? Se a ganância dos homens não impediu deus de me dar uma
casa, por que essa mesma ganância o impede de dar uma casa às outras pessoas? E
isso vale para tudo, da casa à cura da doença incurável.
Nesse ponto param de
me responder, ou mandam uma mensagem me acusando de infeliz e informando que
eles são felizes e por isso creem e agradecem a deus e às vezes até me ofendem
dizendo que estou sendo mal educada! Não entendo onde é que deus esconde o
senso de justiça das pessoas que creem nele, e não entendo também como é que
ele tira delas a capacidade de compreensão de um raciocínio lógico tão simples.
Como sei que não vou
entender isso nunca, nunquinha, jamais. Vou apenas reiterar aqui e novamente
minha afirmação: EU NÃO SOU INFELIZ, sou apenas ateia!
Nenhum comentário:
Postar um comentário