18 de junho de 2020

UMA VISÃO LEIGA SOBRE ECONOMIA E POLÍTICA


Não acho que seja possível prever o futuro com grau de certeza muito alto, sempre pode acontecer alguma coisa que cause uma reviravolta para o inesperado, mas olhando o presente, em muitos aspectos sociais importantes, o que fica visível é que estamos vivendo um período de decadência, ou um andar para trás. Isso pode ser observado na economia, na religião, na educação e até, possivelmente, nas relações sociais. Não quero ser saudosista, sei que tem coisas que são melhores hoje do que eram ontem, mas o "avanço em direção ao futuro" parece que está sendo "emperrado" em vários pontos.

Não me atrai nem um pouco qualquer hipótese de comunismo. E não me atrai principalmente porque é uma utopia falaciosa. O ser humano não é capaz, simplesmente não é capaz, de deixar de ser egoísta e ganancioso. As melhores ideias do comunismo que se possa pensar em defender estão, por conta disso, mortas na raiz.

Democracia não existe de fato da mesma forma que nenhum tipo ideal de governo existe ou poderia vir a existir de fato. O ser humano é falho, egoísta, egocêntrico, ganancioso e sádico demais (como seu deus) para que exista a menor possibilidade de um mundo ou um país ou um sistema econômico e político perfeito. O que podemos fazer é nos indignar e, se possível, lutar contra os males da democracia imperfeita: Corrupção, consumo desenfreado, coisificação de pessoas, monopólios criminosos, etc, etc, etc, os problemas são muitos, e serão sempre.

Desde que me conheço por gente tem alguém dizendo que "corremos o risco de a barbárie aumentar" ou "corremos o risco de voltar à barbárie". Na minha visão não é fato que a barbárie vem aí ou já se instalou; o fato mesmo é que nunca saímos da barbárie. Nós a travestimos de várias maneiras e a colorimos em vários tons, mas ela nunca deixou de existir: Somos bárbaros!

O real, a meu ver, é que qualquer tentativa de democracia, por pior que seja, é melhor do que qualquer ditadura. A famosa lei da oferta e da procura continua e continuará válida; se sou um empresário e posso fabricar meu produto pagando 10 para o trabalhador que contrato não vou perceber nenhum motivo para pagar 100; se estou pagando 10 mas a situação econômica do país, o crescimento demográfico e a conjuntura política mudam a ponto de eu poder tirar 3 desses 10 e passar a pagar 7, é o que vou fazer, pronto! Esse é o pensamento capitalista. Uma merda? Sim, uma merda sem dúvida, mas não sei como poderia ser diferente.

Os donos da produção têm o poder de decidir o valor das mercadorias, isso é um fato; e é um fato principalmente quando essa mercadoria são pessoas. Não acho que a lei da oferta e da procura nasceu em um determinado momento da sociedade humana, acho que ela nasceu com a sociedade humana. Provavelmente quando o hominídeo vivia nas árvores já sabia trocar as frutas mais raras por favores e privilégios.

A lei da mercadoria-escravo foi sim modificada, mas essa modificação não foi contra a lei da oferta e da procura, pelo contrário, foi uma consequência dessa lei. Você pode dizer que a lei da mercadoria-escravo valia antigamente e hoje não vale mais. Será? A nossa língua é pródiga em eufemismos: deixamos de chamar escravos, mas deixamos mesmo de ter escravos?

Muito se fala sobre o aumento da exploração capitalista. Concordo que a exploração capitalista existe e é muito, muito grande, mas será mesmo que ela aumentou? Aumentou de fato? Será que o que aumentou mesmo não foi o ritmo de retrocesso? A exploração antes não era bem maior, com crianças trabalhando e dias de trabalho de 12 a 16 horas, com ausência total de direitos?

Não sei não, mas o que vejo é que por conta da lei da oferta e da procura o trabalhador ganhou benefícios e regalias quando ele era menos numeroso e mais valioso para o empregador; e essa mesma lei da oferta e da procura está hoje fazendo com que o trabalhador perca esses benefícios e regalias porque agora ele é muito numeroso e, portanto, menos valioso.

Pessoas perderem o que têm em países democráticos em situações de crise, como é o caso da chamada zona do euro atualmente, é algo que não me surpreende. Pessoas perderem o que têm em uma ditadura também é fato que não me surpreende, na verdade me surpreende, em uma ditadura, pessoas terem coisas para perder.

Dizer sobre a Espanha, a Grécia, Portugal, como a mídia vem dizendo ultimamente, que "Lá a situação não está nada bem" é algo que sempre podemos dizer de vários países em vários momentos da história, a diferença, a meu ver, é que não podemos dizer dos democráticos que "a situação lá não está nada bem" por causa da democracia, mesmo levando em conta que democracia de fato não existe. Mas sobre os países que vivem regimes de ditadura muitas vezes podemos dizer que "Lá a situação não está nada bem" por causa da ditadura. Para mim essa diferença é crucial.

Lamento pelos habitantes dos países democráticos que estão perdendo o que têm por causa da crise do euro - como lamento sempre pelos que perderam e estão perdendo o que têm seja por qual motivo for - mas daí a dizer que eles deveriam abandonar a democracia e voltar à ditadura vai um grande pulo; e esse pulo eu não dou.

Você pode dizer que estou confundindo capitalismo com democracia. Estou mesmo. E estou porque, a meu ver, de certa forma eles realmente se confundem. Afinal, basta lembrar a quantidade de "benefícios" que foram “dados” aos menos favorecidos por puro e "disfarçado" interesse capitalista; basta lembrar a luta da Inglaterra para acabar com a escravidão no Brasil, com interesse unicamente no mercado consumidor que se criaria no momento em que os escravos passassem a ser assalariados. Não sou especialista, mas quase apostaria que a democracia é uma invenção do capitalismo.

Isso não diminui em mim a preferência pela democracia como um mal menor. O capitalismo é terrível, a democracia que existe é um horror; mas são criações humanas, portanto, a raiz de todo esse mal, e da impossibildade de que esse mal se torne um bem, é o ser humano, o defeituoso "ápice da criação" que tantas vezes e em tantos aspectos me enoja. E essa raiz não vai mudar. Não acredito no ser humano.

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