(nomeados e abençoados por deus)
Muito se falou, e se
vem falando no momento em que escrevo, sobre o caso da menina de nove anos (ela
é a Isabela da vez), estuprada e grávida de gêmeos, que, como autoriza a lei,
foi submetida a um aborto. Os médicos e a mãe da menina foram excomungados e o
agressor, padrasto da criança, está preso mas tem o direito de se confessar, se
arrepender e ser perdoado pela igreja uma vez que a excomunhão que atingiu os
que salvaram a vida da menina, que corria sérios riscos por essa gravidez em um
corpo frágil e com aparelho reprodutor não totalmente formado, não atingiu o
tal homem, se é que assim se pode chamar seres como esse.
Mas, se pensarmos bem,
houve um progresso bastante grande na postura religiosa frente a esse caso e
outros como esse, que por (des)ventura possam acontecer.
A menina foi estuprada,
tudo (bem?). O que a bíblia determina nesses casos é que se investigue melhor a
ocorrência. Então, para seguir à risca a "constituição" de sua
fé, as orientações do livrinho de histórias e mitologias que os religiosos afirmam
ser a "palavra de deus", incontestável, verdadeira e única,
essas pessoas escolhidas e capazes de conhecer a "verdade" (os
cristão e também os judeus, incluindo, claro, o tal arcebispo tão cioso de sua
fé) teriam que investigar primeiramente onde foi que aconteceu o estupro.
Se foi em lugar ermo e
afastado de qualquer pessoa que pudesse interferir, a menina teria que se casar
com o padrasto. Ela passaria a ser esposa e, por essa bênção compulsória que o
padrasto lhe daria, a garota se livraria da vergonha, teria um homem a quem
subjugar-se e seria sustentada por seu agressor durante toda a vida, mesmo que
essa durasse apenas alguns meses, uma vez que a gravidez provavelmente a
mataria.
Perguntar a ela se a
solução a agrada ou satisfaz? Não, é claro! Como poderia sequer passar pela
cabeça de um seguidor das leis de deus, escritas e sagradas, levar em conta a
opinião de uma mulher?
Se o estupro aconteceu
em lugar povoado, ou em lugar onde estivessem, no momento, pessoas que, caso a
menina gritasse pedindo ajuda, pudessem salvá-la, então a garota, pelo crime de
não ter gritado, ou não ter gritado alto o suficiente para ser ouvida, teria
que ser levada para fora de sua casa e apedrejada até a morte.
E nesse caso, o que
aconteceria com o padrasto? A bíblia não diz nada, e, como ele não poderia ser
obrigado a se casar com a menina (que, como criminosa que era, estaria morta),
talvez fosse obrigado pela comunidade a pagar um valor estipulado ao pai da
menina, uma vez que esse homem (homem, atentem para o detalhe!) foi
prejudicado, já que perdeu a filha e, portanto, a possibilidade de vendê-la.
Então, possivelmente, o padrasto teria que ressarcir o pai do prejuízo pagando
a ele, no valor do mercado, o que ele teria recebido pela menina.
Então, como podem ver,
houve um grande progresso. A menina não terá que se casar com o seu agressor e,
melhor ainda, não será apedrejada até a morte por seu crime e, o maior
progresso de todos, alegrem-se irmãos! O padrasto não terá que dar seu nome
honrado a uma mulher não virgem nem terá que pagar o preço de uma esposa sem
ter a mercadoria!
E estamos reclamando,
sentindo raiva, impotência, revolta e nojo por quê? "A palavra de deus
nunca muda", é o que prega a bíblia, no entanto, graças aos homens
santos (benditos sejam eles!) que a interpretam e aplicam, houve essa mudança,
houve esse progresso!
Regozijai, cristãos!
Enquanto isso, eu, que felizmente
sou ateia, vou ao banheiro vomitar!
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