Ao longo dos séculos, os cristãos
fizeram um zilhão de mudanças e adaptações nos ensinamentos e preceitos do
cristianismo, mas sempre afirmam que basta segui-los e crer para encontrar-se
com deus e viver no paraíso eterno.
Antes de começar deixa eu avisar
que não sou especialista em história, e não sou especialista em história do
cristianismo ou de qualquer religião. Tudo que vou dizer vem de conhecimentos
adquiridos como mera curiosa desse assunto - como meio que sou de muitos outros
assuntos. Portanto, não me venham cobrar especificidades porque não vou poder
dá-las. Qualquer dúvida pesquise e, se encontrar algum erro nas minhas afirmações,
pode descer a lenha que não ligo, tá?
Vamos lá! No começo dos tempos do
cristianismo todo cristão, inclusive o próprio Cristo, acreditava que Jesus
voltaria logo, muito logo, em coisa de, no máximo, uns poucos anos. Daí que as
próprias falas do Jesus bíblico confirmam que as orientações eram para que
ninguém se apegasse aos bens materiais. Os discípulos e seguidores não deveriam
possuir nada e andar pelas ruas pregando a Palavra e vivendo de esmola.
Passaram os anos. Cristo foi, mas não voltou. Então o cristão - talvez
discretamente a princípio - começou a ter uma coisinha aqui outra ali e a dar
um jeitinho de dizer que com isso não estava, de forma nenhuma, deixando de ser
cristão.
A coisa foi se desenvolvendo a
ponto de hoje em dia não se conseguir encontrar muitos cristãos que ainda
entram nessa de dar tudo que têm aos pobres e andar pelas ruas pregando a
palavra e vivendo só de esmolas. Eu mesma nunca vi nenhum. Ou seja, a adaptação
do ensinamento dado ao cristão no princípio foi se aperfeiçoando com o tempo a
ponto de o cristão não se sentir vexado de morar em palacete e dirigir o carrão
mais caro do ano se conseguir pagar por isso. Algumas pessoas maldosas poderão
dizer que nem sempre é de maneira lícita e honesta que muitos dos cristãos ricos
conseguem pagar pelos seus bens. Pode, inclusive, parecer que esses críticos
não estão faltando com a verdade, pelo menos em alguns casos. Não é mesmo,
Malafaia & CIA?
Antigamente uma noiva teria que
ser obrigatoriamente virgem - salvo em casos especiais, como a viuvez. Se uma
moça tivesse a audácia de chegar ao altar sem esse “qualificativo”, ela
poderia estar certa de que quando morresse estaria condenada ao inferno por
toda a eternidade. Quando eu era criança, casar-se de branco sem ser virgem era
pecado mortal, segundo minha mãe e todas as mulheres da idade dela que eu
conhecia. Quantos cristãos se atreveriam a defender seriamente esse preceito
ainda hoje? E, caso alguém o faça, quantas cristãs levariam isso a sério?
Quando eu era criança, minha mãe
jurava que comer carne na semana santa era pecado mortal com direito ao
inferno. Depois de um tempo, até mesmo na minha casa, essa proibição se reduziu
apenas à sexta-feira. Hoje, que eu saiba, não tem tanto cristão assim que
acredita que poderá queimar no inferno - apesar de todos os seus cultos e
missas - se “escorregar” e comer um bifinho na sexta-feira santa.
Antigamente o casamento era para
sempre – “Até que a morte os separe”. A separação era um ato que, com
toda a certeza e sem nenhuma sombra de dúvida, perderia para sempre e
inapelavelmente “a alma imortal” dos dois membros envolvidos no ato. Não
importa quão ruim pudesse ser a vida conjugal, ela teria que se manter porque o
laço do matrimônio era sagrado e não podia ser quebrado a não ser pela morte.
Acho que hoje em dia nem padre nem pastor diz mais no ato da cerimônia de
casamento que “O que deus uniu o homem não separa” e, se ainda disserem,
duvido muito que alguém leve isso a sério, incluindo o próprio padre ou pastor.
Essas são algumas das “adaptadas”
que envolvem atitudes do dia a dia de que me lembrei para dar como exemplo das
coisas que foram “sutilmente” mudadas pelos cristãos para adequar sua
religião ao seu desejo. Além disso, muito se poderia dizer das coisas que
suscitam divergências mais ou menos sérias entre as várias modalidades do
cristianismo, como a adoração de ídolos e o celibato de seus ministros. Se
olhar a bíblia e for enumerar e comentar todas as ordens, mandamentos,
preceitos e tabus que lá estão, e que foram amenizados ou “ressignificados”
pelos cristãos de uma ou de várias vertentes do cristianismo, terei que
escrever um livro.
O “pulo do gato” é o
cristão garantir que nada daquilo que ele não segue vale agora porque “não
foi isso que deus (ou Jesus) quis dizer”. O cristão encontrou uma
maravilhosa e oportuna saída: dizer que o que está na bíblia e que ele não acha
que valha a pena seguir é “sentido figurado”. O curioso é que ele nunca
usa esse mesmo argumento do “sentido figurado” quando o mandamento,
preceito, recomendação ou sentença em questão está confirmando o que ele pensa.
Mesmo, e principalmente, quando o que ele pensa é fruto de puro preconceito.
Alguém poderia me cobrar
afirmando que me propus a falar da megalomania cristã. Essa pessoa perguntaria
onde é que eu vejo a megalomania cristã nesses fatos que acabei de relatar?
Simples: O cristão se acha tão importante, tão valioso, tão privilegiado e tão
amado por deus que não importa quais sejam as prescrições do momento e quantas
tenham sido as alterações que o cristão tenha feito nelas ao longo dos anos ou
dos séculos, elas valem para ele como são. Como são agora. Parece, a quem olha
de fora como eu, que essas prescrições são cuidadosamente adaptadas por deus
para estarem sempre dispostas da maneira que for mais confortável para o
cristão.
Por conta disso não posso deixar
de me perguntar: E o que aconteceu com as pessoas que viveram antigamente, que
não obedeceram aos preceitos da forma que eles eram pregados naquele tempo e
que, por isso, foram mandadas para o inferno pelo deus obediente ao cristão?
Não esquecer que muitas dessas pessoas foram inclusive mandadas para lá antes
do tempo normal previsto porque deram o azar de trombar com um inquisidor ou
com um fanático. E, mais e especialmente, me pergunto: O que acontecerá comigo
quando eu já estiver no inferno e algum cristão resolver que o que faço e digo
na verdade não é pecado?
A quem eu processo?
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