21 de junho de 2020

AGRADECIMENTOS E ORAÇÕES


Muitas pessoas afirmam que, mesmo não acreditando em deus, a gente não deveria criticar os religiosos porque já foi comprovado que rezar faz bem, eu acho que é necessário pensar nesse assunto com um pouco mais de profundidade. Nem sempre rezar faz bem, nem sempre é nulo ou inócuo, o fato é que não existe nenhuma entidade atendendo as orações de ninguém e às vezes, para algumas pessoas, acreditar nisso pode causar grandes males

Teve uma fase da minha vida em que eu pensava justamente isso. Sempre que entrava em uma igreja ou pensava em deus a única coisa que eu fazia era agradecer. Mas aí eu comecei a "tirar os olhos do meu próprio umbigo" e comecei a sentir muita vergonha de agradecer por algo que eu tinha e que pessoas tão ou mais merecedoras do que eu (no caso de crianças muito mais) não tinham. Concluí que um deus que estivesse me dando as boas coisas que eu tinha e negando essas mesmas coisas a muita gente não merecia meus agradecimentos, merecia meu desprezo e repúdio.

Não vejo sentido nenhum em agradecer pelo que tenho a nenhum tipo de deus ou o que mais alguém queira chamar. Se existisse algo ou alguém responsável pelas coisas boas que me acontecem, as possibilidades seriam: 1 – Um ser consciente e, portanto, injusto porque deu a mim o que não deu a todo mundo. Então, como disse lá em cima, mereceria meu repúdio e não agradecimento. 2 – Algo não consciente a que agradecer seria tão absurdo quanto agradecer meu aparelho de televisão por ter visto um filme de que gostei. Agradecimento só faz sentido quando é feito a uma pessoa que me fez um favor, que me ajudou de alguma forma ou até mesmo a um animal como um cachorro que, por exemplo, tenha espantado um agressor me salvado de um assalto. Fora isso não faz sentido. Vejo as boas coisas que tenho com a mesma alegria que teria se ganhasse na loteria, para mim é apenas sorte, totalmente aleatória, mais ou menos como números sorteados. Que raio de sentido teria agradecer por isso a roleta que girou e apontou um número que coincidentemente é o meu?

Acredito que a oração pode fazer bem para algumas pessoas! Já li a respeito. Pessoas que acreditam que existe um ser que pode ajudá-las na hora do desespero se sentem melhor quando rezam e às vezes melhoram e até saram de algumas doenças. Isso é perfeitamente compreensível, nosso cérebro é programado para acreditar, é o mesmo princípio do efeito placebo. Não significa que faça sentido rezar, da mesma forma que o fato da pessoa se sentir melhor com placebo não significa que placebo tem princípios curativos.

A neurociência tem mostrado que o cérebro faz coisas que parecem quase milagrosas, que nosso cérebro é programado para acreditar, que nosso cérebro nos engana o tempo todo. A neurociência mostra isso de várias maneiras e o teste do duplo cego que se faz corriqueiramente para medicamentos é um lado prático disso. Então, quando a oração traz benefício a alguém isso acontece porque a pessoa acredita e não porque exista qualquer deus que tenha feito qualquer coisa, quem fez foi a própria pessoa, foi o cérebro da pessoa que aceitou que o que ela acredita é verdade e que a fez melhorar. É o efeito placebo. Simples assim.

O problema é quando a oração não é só placebo, não é só inútil, mas se torna muito danosa. E isso às vezes acontece, acontece mais do que a gente pensa. A pessoa tem tanta fé na oração que não procura o médico e morre, a pessoa tem tanta fé na oração que não leva o filho ao médico e a criança morre. Minha mãe fez isso quando minha irmã era um bebê, a tristeza e o arrependimento dela foi algo com que eu e meus irmãos tivemos que conviver durante toda a nossa infância; e ela durante todo o resto da vida que teve.

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