Um ateu afirma que deus
não existe e, se pensar bem, afirma também que todos os agnósticos são ateus
com um nome mais sonoro. Me parece que todas essas pessoas que se dizem
agnósticas porque não têm certeza sobre nada e não conseguem se definir por uma
coisa nem por outra são ateias que ainda não sabem que o são. Não estou
tentando ofender ou diminuir o agnóstico nem estou sendo irônica ou sarcástica
quando falo em “um nome mais sonoro”, é que acho mesmo a palavra “agnóstico”
muito mais bonita do que a palavra “ateu” e principalmente mais bonita
do que a palavra “ateia” que é uma palavra realmente muito feia. Entendo
perfeitamente o argumento dos agnósticos de que não estão “em cima do muro”,
apenas acham que não temos e não podemos ter conhecimento suficiente para
afirmar com toda a certeza que não existe e nunca existiu nenhum tipo de deus.
Eu também acho isso e sou ateia!
Muitas pessoas se
definem como agnósticas, mas eu tenho a forte impressão de que, pelo menos em
muitos casos, adotar o termo “agnóstico” é uma forma de se dizer ateu
sem assumir a palavra “ateu” que é mais pesada porque normalmente
pressupõe um tipo de militância a que o agnóstico não quer se engajar. Muitas
vezes a pessoa se diz agnóstica porque está em processo de estudo e, por ser
honesta, sente que não encontrou – nem vai encontrar – argumentos suficientes
para negar a possibilidade da existência de deus. Acho que há ainda aquelas
pessoas que se definem como agnósticas porque aceitaram como razoável o
argumento de que religião não se discute e até mesmo falar sobre religião de
forma contrária à crença comum pode ser uma falta de respeito com a fé das
pessoas, principalmente quando não se pode provar que elas estejam
completamente erradas.
Mas, o que me parece
mesmo é que agnóstico é ateu. O agnóstico não acredita de verdade no deus dos
teístas seja ele qual for e não acredita no "fato" de ser
sagrado o livro sagrado dos teístas seja ele qual for; mas admite a
possibilidade (pela simples impossibilidade de provar o contrário) de existir
ou ter existido uma mente qualquer, inteligente e interessada – ou não – que
pode ter criado o universo e a vida. O agnóstico não deixa de ser, no final das
contas, um humilde, uma pessoa que sabe de suas limitações e faz questão de
deixar isso muito claro. Por se conhecer e reconhecer como pertencente a uma
espécie insignificante e limitada, o agnóstico afirma que não se importa se
esse ser, ente ou mente criadora existe ou não porque para ele não há e não
haverá nunca como saber disso com certeza, então ele opta por não tomar
partido. Não há como negar que é uma opção perfeitamente racional.
Pois bem, eu concordo
com todos esses argumentos dos agnósticos e também admito que, seja como
indivíduo seja como raça, muito possivelmente não tenho e nunca terei
conhecimento suficiente para negar com absoluta certeza que um tipo qualquer de
mente possa ter criado o universo e a vida. Portanto, penso exatamente a mesma
coisa e do mesmo modo que os agnósticos, mas me defino como ateia, por quê?
Simples: porque para mim essa mente, ou seja lá o que for, que pode existir ou
não e que pode ou não ter criado o universo, não será, não é e não tem como,
racionalmente falando, ser chamada de deus. Se chamá-la simplesmente de
Iniciador ou Mente criadora posso estar sem nem saber me referindo apenas a um
ET mais evoluído. Mas aí começaria novamente a dúvida sobre quem criou o tal ET
e nós nos tornaríamos novamente ateus ou agnósticos.
De qualquer forma, em
minha opinião, na possibilidade de existir ou de ter existido uma mente
criadora do universo, nós teríamos que encontrar outro nome para esse "ser"
porque a semelhança dele com deus seria, mais ou menos e mal comparando, a
mesma semelhança que pode existir entre um cachorro e uma xícara de chá. Talvez
até se pudesse encontrar mais semelhanças entre o cachorro e a xícara de chá do
que encontraríamos, caso pudéssemos ver, entre essa Mente e o deus de qualquer
teísta, afinal, pelo menos, cachorro e xícara de chá partilham a existência
como matéria constituída de átomos, que formam moléculas, que formam
substâncias, que são acessíveis aos sentidos humanos e que estão nessa parte
deste universo. Pode ser que não exista semelhança desse tipo entre a Mente
criadora e o deus dos teístas. É por isso que eu e (acho que) a maioria dos que
conseguiram se libertar das amarras da fé e se deram ao trabalho de pensar no assunto
– não por sermos mais inteligentes, mas por nos interessarmos pelo tema –
negamos veementemente a existência de deus e nos definimos como ateus.
O agnóstico não
acredita no deus bíblico porque basta ler a bíblia para ver que esse deus não
faz nenhum sentido. Mas, pensando melhor, devo dizer que fazer sentido não é e
nunca foi um pressuposto para a existência; afinal, se olhada mais de perto a
própria Vida ela mesma não faz nenhum sentido. Tanto não faz sentido que os
místicos e religiosos precisam buscar sentido para a vida fora da vida ou em
outra vida. Acontece que deus, esse deus que seria, nas palavras dos teístas, o
“sentido da vida”, esse sim, se existisse, teria obrigatoriamente que
fazer sentido. Como poderia aquilo que serve para dar sentido a algo sem
sentido não ter sentido? Parece brincadeira de salão. Deus, portanto, teria que
fazer sentido; e teria que fazer sentido não apenas para os que optaram por
acreditar nele, teria que fazer sentido para todos e igualmente. Teria que
fazer sentido inclusive para mim.
Nesses deuses
escritores ou inspiradores de livros sagrados, o agnóstico não acredita porque
a prova de sua não existência está no próprio texto que muitos teístas querem
usar como prova de sua existência e o agnóstico sabe disso. Ele admite sim a
possibilidade da existência de uma mente criadora justamente porque não há como
provar que ela não exista. Usando a lógica, um Iniciador chega a fazer sentido,
por isso o agnóstico fica no meio, fica “em cima do muro”, não por
covardia como irônica e falsamente dizem alguns, mas por não poder acreditar
nem duvidar totalmente já que falta comprovação para ambas as hipóteses. Dá um
espaço aí nesse muro que também estou nele!
Por conta dessas
concordâncias, acho que posso dizer que, além de não acreditar em deus, não
acredito também em agnósticos; e o que estou afirmando com isso é que eu também
não nego nem afirmo a possibilidade uma "mente criadora", ou
seja lá o que for; e sei que não tenho como fazê-lo mesmo. O que estou
afirmando é que me sinto exatamente como o agnóstico quanto a essa
possibilidade porque não há como provar nem existência nem inexistência dessa
mente. Viu? O ateu é igualzinho o agnóstico! A diferença é que sou mais ousada
e mais faladora, mais audaciosa – talvez “metida a besta” seja uma expressão
mais adequada – e, consequentemente mais digna da excomunhão do que o
agnóstico. Também fico em cima do muro, mas fico gritando para alertar os que
não estão no muro que esse chão é movediço.
O que defendo e o que
me faz negar o agnosticismo é que, seja lá o que for essa "mente
criadora" na qual não podemos acreditar e da qual não podemos duvidar,
esse ser, essa entidade, essa mente não é a mesma coisa que deus. Essa "mente",
que pode existir ou não, precisa de outro nome; e é bem possível que não seja
adequado usar algum dos nomes que filósofos mais ou menos antigos usaram (por
exemplo, o Uno de Heráclito) porque esses já foram tomados como sinônimos
absolutos de deus por outros filósofos e por teólogos. Pensei na denominação
que o George Lucas encontrou na trilogia Guerra nas estrelas: “A Força”,
mas me parece que, por ser originária de um filme de ficção e não de um termo
antigo em latim, grego ou sânscrito, vai ser difícil que esse termo seja
aceito; palavras tiradas de filmes não costumam ser levadas tão a sério assim.
Além disso, “A Força” do filme se parece mais com o deus dos teístas do
que essa Mente se pareceria. De qualquer forma o fato é que o nome deus
decididamente não serve para essa entidade de existência possível embora
improvável. Essa é a minha teoria.
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