20 de junho de 2020

MAIORIDADE PENAL


Não me parece que mudar a maioridade penal para 16 anos seja solução, me parece muito mais adequado que a gente, como sociedade, pare de ter responsabilidade na formação desses bandidos; depois sim, podemos pensar em mudar leis. Mas mesmo assim eu mudaria de outra forma: Considerando caso por caso, dependendo do crime. Enquanto aqui estivermos prendendo ladrões de galinha e deixando verdadeiros bandidos soltos a passar lua de mel em paraísos caríssimos, não acho que tenhamos moral para falar em maioridade penal.

Você pode perguntar o que quero dizer com "a gente [...] pare de ter responsabilidade na formação desses bandidos". Quero dizer que a nossa sociedade é pródiga em acusar mas muito lerda em proteger. Quero dizer que olhamos com ódio o trombadinha, o bandido de dez ou treze anos, mas olhamos com indiferença a criança abandonada jogada pelas calçadas. Quero dizer que fazemos campanhas contra a legalização do aborto "em defesa da vida" mas não queremos que gays adotem crianças, preferimos que sejam jogadas em orfanatos e escolas do crime. Quero dizer que que vociferamos contra os bandidos menores de idade mas não cobramos do Estado a proteção à criança, que está na constituição. Quero dizer que somos contra “bolsa-isso-e-bolsa-aquilo” porque "pobre é vagabundo e tem mais é que trabalhar" e não nos lembramos de reclamar quando o governo dá milhões para reerguer uma empresa em dificuldade cujo proprietário investe na bolsa e mora em mansão ou ajudar banqueiros, que certamente não estão precisando de dinheiro. Quero dizer que elegemos representantes pela retórica elaborada e pela marca do terno e não pelas propostas e histórico de luta por justiça social.

Nós, não eu e você, mas nós sociedade, formamos ou ajudamos a formar muitos desses bandidos, depois queremos metê-los na cadeia e esquecer a chave sem peso na consciência.

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