Eu
nunca, JAMAIS, agradeceria meus pais pelas surras que me deram. Nunca, em
nenhum momento nenhuma delas me trouxe beneficio algum. Odiei todas, senti
raiva e tive sede de vingança todas as vezes que apanhei. Desde a surra mais
violenta até o tapa mais suave, nenhuma dessas agressões me fez qualquer tipo
de bem. não!!
Não mesmo! Se sou razoavelmente legal hoje, isso não se deve a nenhuma das
pancadas que levei! Odiei cada uma, me senti impotente e aviltada todas as
vezes que apanhei e, o que é pior, fiz coisas ruins que não teria feito se não
tivesse apanhado porque cada vez que apanhava sentia muita raiva e procurava me
vingar. Minhas vinganças nem sempre foram boas para mim mesma, mas era a única
resposta que minha impotência conseguia dar.
Nunca vou achar que
palmadas, cintadas, chineladas são coisas sequer medianamente aceitáveis, não para
mim, não mesmo. Nesse ponto sou muito radical. E falo por experiência,
experiência de quem apanhou, de quem conheceu a sola do chinelo, a flexibilidade
da vara, a capacidade de deixar marcas que uma tira de couro tem.
Não
odeio meus pais por isso, até entendo que algumas vezes fizeram isso com boas
intenções, mas não, nem por decreto eu agradeceria. E sei muito bem que embora
achassem que era para o meu bem, algumas vezes, e talvez não poucas, eles me
bateram para descarregar a raiva, como fazem todos os pais que batem em filhos.
Mesmo assim não os odeio, nem guardo mágoa, sei que filhos não são fáceis e sei
que não fui uma filha fácil.
Sempre
achei que a solução pode ser algo simples e claro como tratar a criança como um
ser humano – que ela é! – e se colocar também como ser humano numa relação de
respeito recíproco. Pode parecer meio complexo, mas comigo funcionou muitíssimo
bem. Sempre e desde sempre e por todos os motivos eu estava ensinando meu filho
que o nosso dever básico no mundo é respeitar as pessoas, todas as pessoas.
Eu
o ouvia, argumentava com ele e acatava suas opiniões sempre que possível
dizendo que era minha obrigação respeitá-lo porque ele é uma pessoa; eu fazia
determinada concessão ao pai dele e dizia a ele que era minha obrigação tentar
compreender e respeitar o pai dele porque é uma pessoa. Eu cumprimentava e dava
atenção para uma vizinha fofoqueira e explicava pro meu filho que tinha
obrigação de tratá-la educadamente porque ela é uma pessoa. Eu dizia sempre a
ele que os sentimentos que temos os outros também têm, que o que machuca a
gente machuca também as outras pessoas, que se somos capazes de sentir tristeza
as outras pessoas também são. Claro que não fui perfeita nisso, mas foi o que
tentei fazer sempre.
Enfim,
eu tentei deixar claro – sempre com exemplos e todas as vezes que a ocasião
permitia – que pessoas devem ser respeitadas e que todos somos pessoas. Daí,
quando ele aprontava ou ameaçava aprontar alguma eu dizia: “Você deve me
respeitar pelo mesmo motivo que eu devo respeitar você: não porque sou sua mãe,
não porque sou mais velha nem porque sou maior, você deve me respeitar porque
sou uma pessoa e as pessoas merecem respeito”. E eu não precisava ficar fazendo
longos e tediosos discursos porque já tinha dito aquilo várias vezes de várias
maneiras e por vários motivos alheios ao comportamento dele, então ele já tinha
visto e aprendido o quanto isso é verdade, por isso funcionava.
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